Detido aos 11 anos, ex-preso político presta depoimento à OAB/RJ

A busca pelo resgate da memória de fatos ocorridos durante a ditadura militar teve mais um capítulo na ultima quarta-feira, dia 16, quando a Comissão da Verdade da Seccional ouviu seu quarto depoente, o ex-preso político Jefferson Lopetegui de Alencar Osório. A declaração foi acompanhada pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Marcelo Chalréo, e por Jair Krischke, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos.

Filho do ex-coronel do exército Jefferson Cardim, um dos líderes da Guerrilha de Três Passos, movimento deflagrado em 1965 e que foi a primeira ação armada opositora ao governo militar instalado pouco menos de um ano antes, Osório contou ter sido detido três vezes durante a ditadura. Na última delas, aos 18 anos de idade, foi torturado fisicamente.

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Com apenas 11 anos, foi apreendido ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, procedente do Uruguai, onde foi visitar seu pai. Por conta de informações do Centro de Informações do Exterior (Ciex), órgão que registrava a atividade de exilados, foi levado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Rua da Relação, onde teve sua bagagem revistada e onde ficou por 11 horas.

A segunda detenção foi em casa, aos 15 de idade, logo após participar da fuga do pai, que estava preso no Paraná e buscou asilo político na embaixada do México. Osório foi interrogado por nove horas no Ministério do Exército, quando teve que mentir sobre sua ida a Curitiba. Sendo menor de idade à época e filho de mãe uruguaia, teve direito a presença de um representante da embaixada do Uruguai.

Sua última prisão, aos 18 anos, na Argentina, foi relatada em detalhes. Na companhia de Cardim e do primo Eduardo Lopetegui, foram abordados ainda dentro da balsa que os levava de Colônia, no Uruguai, para Buenos Aires. Conduzidos a uma instalação da Polícia Federal Argentina, foram torturados durante quatro dias. Esta ação está minuciosamente descrita em documento do Ministério do Exército ao qual a Comissão da Verdade da OAB/RJ teve acesso e que comprova a colaboração entre as ditaduras do Cone Sul, na chamada Operação Condor.

Durante pouco mais de uma hora de depoimento, foram relatados acontecimentos ligados ao pai e à sua atuação no período. Alguns fatos foram lembrados com a ajuda de documentos, como, por exemplo, um encontro com Alberto Conrado, pessoa considerada amiga por Cardim e que, sabe-se hoje, acabou por entregá-lo.

Osório elogiou o esforço que vem sendo feito no resgate da verdade histórica. "Vocês estão descobrindo muitas coisas. Pessoas bem informadas da minha família, pessoas de esquerda ou ligadas aos militares nunca devem ter recebido certas informações", disse.