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19 de Abril de 2024
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    Pelegos atropelados - Wadih Damous

    Publicado por OAB - Rio de Janeiro
    há 10 anos

    Durante do carnaval deste ano eclodiu, no Rio, uma greve de garis que emparedou a prefeitura. No momento da maior festa popular da cidade, quando chegaram milhares de turistas, as ruas ficaram infestadas de lixo, que atraía ratos e baratas e causava mau cheiro.

    O prefeito foi obrigado a ceder e os garis voltaram ao trabalho vitoriosos.

    Há duas semanas os rodoviários do Rio fizeram uma greve de advertência, por 48 horas, afetando duramente a rotina da cidade. A situação continua tensa e existe a possibilidade de o movimento grevista ser retomado durante a Copa do Mundo.

    Há quem diga ser oportunismo político determinadas categorias profissionais escolherem momentos como o carnaval ou a Copa para movimentos reivindicatórios. Essa condenação moral (ou moralista?) não leva a qualquer lugar. É natural que os trabalhadores escolham os momentos em que seus movimentos tenham maior repercussão, pois isso aumenta sua capacidade de pressão sobre os empregadores.

    Goste-se ou não, durante a Copa outras categorias profissionais devem também se manifestar, com ou sem greves.

    Mas há algo em comum a ser observado nas greves dos garis e dos rodoviários do Rio. Nelas, as bases atropelaram as direções sindicais.

    Nos dois casos a paralisação aconteceu fora da data-base das categorias e contra a vontade dos respectivos sindicatos. Ora, pelegos inibem as lutas de trabalhadores e, nesse sentido, prestam um serviço aos empregadores. Muitas vezes há inclusive interferência dos patrões nas eleições de sindicatos de trabalhadores, tratando de fortalecer chapas que seriam mais dóceis. Mas, quando essas direções apelegadas deixam de ter um mínimo de representatividade - por desgaste natural ou porque as bases ganharam mais consciência e organização - perdem a serventia até mesmo para os patrões.

    Os sindicatos de rodoviários e dos garis do Rio não foram os únicos atropelados pelas bases recentemente. E quando isso ocorre, cria-se uma situação que não é fácil administrar.

    Com quem negociar? A quem a Justiça do Trabalho deve responsabilizar e de quem deve cobrar o cumprimento de suas decisões?

    Essas recentes greves no Rio podem ter sido a ponta do iceberg. A maioria dos sindicatos e de centrais sindicais, hoje no Brasil, tem dirigentes acomodadas, mais preocupados em usufruir as mordomias que o cargo proporciona do que em defender efetivamente os interesses dos trabalhadores que deveriam representar.

    Já não se fala mais no fim do Imposto Sindical, que garante uma receita que independe da representatividade do sindicato e é um fomentador do peleguismo.

    Nesse quadro, não será surpresa se outros movimentos grevistas atropelarem direções sindicais num futuro próximo.

    Lua-de-mel com data para terminar

    Aécio Neves e Eduardo Campos têm feito uma aliança tácita e unido esforços para bater em Dilma Rousseff, na tentativa de forçar um segundo turno na eleição presidencial. Mas já começam apostas sobre quanto tempo vai durar a lua-de-mel. Afinal, se houver segundo turno, só um deles chegará lá.

    Assim, é inevitável que o amor entre os dois tenha prazo para terminar.

    Recuo insuficiente

    O juiz Eugênio Rosa de Araújo voltou atrás e admitiu que umbanda e candomblé são religiões. É positivo. Mas ainda se recusa a mandar retirar da internet conclamações a atos de intolerância contra esses cultos, feito por segmentos evangélicos pentecostais.

    É bom lembrar ao ilustre causídico: o Código Penal, em seu artigo 208, tipifica como conduta criminosa "escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso".

    É natural que, para deflagrar seus movimentos, os trabalhadores escolham os momentos em que eles alcançarão maior repercussão.

    Wadih Damous é presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio.

    Artigo publicado no Jornal do Commercio.

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/pelegos-atropelados-wadih-damous/121031130

    1 Comentário

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    Engraçado notar que quando se trata de escarnecer de evangélicos nada se menciona.... Se fosse o contrário, será que alguém falaria alguma coisa ? continuar lendo